O Corpo da Mulher no Parto - Por Dra. Daniella Leiros - Ribeirão Preto - SP
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O corpo. Ah.... o corpo da mulher. Um corpo grávido, um corpo parindo.
O corpo é o instrumento de expressão, aparelho de inscrição, material de leitura, de fala, de conversa. Através do corpo mostramos nossa cultura, nossas preferências, nossas escolhas, nossos sentimentos, exprimimos tudo nele e através dele.
É no corpo que cada um dos aspectos da nossa vida interagem entre si. E no parto não é diferente.
E dai? Daí é que isto tem tudo a ver. Sem o corpo não há parto. Sem interligar cada um desses aspectos da vida não há parto.
Através do seu corpo, seu filho nasce, através do seu corpo, seu filho fica, demora, escorrega, facilita, se adapta... É conhecendo e entendendo o seu corpo que você pode estar mais presente no seu próprio parto como sujeito, como pensante, como atriz principal do ato. É pelo seu corpo que o processo se dá.
Nossa, é verdade. Mas como posso facilitar tudo isso?
Esse é o X da questão. Como facilitar um processo que é fisiológico, natural?
CONHECENDO-SE.
Sessões de auto-conhecimento e percepção corporais são indispensáveis para isso. O trabalho com o corpo em si, lembre-se disso. Mas também as aulas de parto, os grupos de gestantes, as palestras sobre o que pode e o que não pode acontecer.
CONHECIMENTO É VIDA.
O que hoje se sabe da fisiologia e da ligação entre mente-corpo-emoção-músculos é capaz de melhorar ou corrigir a estrutura musculoesquelética (ossos, músculos e ligamentos) e participam diretamente do parto.
Mas eu quero falar do comportamento do corpo. Vamos entender como ele se comporta no trabalho de parto?
O processo do trabalho de parto é fisiologicamente natural, não necessariamente fácil e simples, mas inato ao próprio corpo. O corpo é capaz de parir por si só.
O corpo “consciente” (digo sensível, auto perceptível) em trabalho de parto é um corpo que sabe da sua “potência”, da sua capacidade, que sabe que precisa de apoio e não que façam por ele ou que lhe “amarrem” na sua forma de expressar-se.
No campo emocional é colocar o corpo, mente e emoções para o parto. É deixar o bebê nascer, estimulando a sua autonomia e saberes do próprio corpo.
No campo sensorial a mulher sente coisas que não sabia poder sentir, seu corpo responde de uma maneira nunca percebida antes
No campo físico o corpo se movimenta sozinho, se mantém ativo, descobre sozinho como aliviar as dores e facilitar a dilatação e escolhe sozinho a melhor posição para o nascimento.
A resposta motora deste corpo depende de muitos aspectos; emoções da mulher a respeito daquela gravidez, ao significado do parto, como ela enfrenta aquele parto, como ela é tratada pela equipe que a acompanha, de como o corpo se porta, de como responde às contrações, à dilatação do colo, à pressão do bebê sobre o períneo e canal vaginal. As percepções podem ter as mais diversas interpretações; dor, medo, surpresa, angústia, segurança, curiosidade, confiança, prazer, alegria, tristeza....
Os músculos, a respiração, os batimentos cardíacos, o corpo responde a essas sensações.
Quando a mulher está livre para se expressar e reagir, ela se movimenta, experimenta posições, procura conforto, sente, fala o que sente, relaciona-se com o bebê, mantém-se ativa, transforma o seu corpo em instrumento ativo do processo.
Movimentar-se durante o trabalho de parto traz inúmeros resultados benéficos:
- trabalho de parto mais curto
- contrações mais reguladas, coordenadas e eficientes
- menos uso de ocitocina
- menos analgésicos e anestésicos
- mais conforto e tolerância ao desconforto
- menos dor e menos medo
- dilatação mais fácil
- maior mobilidade pélvica
- maiores diâmetros pélvicos
- melhor encaixe do bebê
- menor uso de fórceps
- maior elasticidade da musculatura perineal
- menos roturas de períneo
- melhor vitalidade do bebê
- menor incidência de cesáreas
Podemos ajudar a mulher a desenvolver e construir as suas habilidades e do próprio corpo. Não é socorrer a mulher com “problema” no trabalho de parto, mas acompanhar o trabalho de parto em relação ao que é saudável e ao que aquele corpo pode e consegue fazer, sentindo e aceitando os seus limites com liberdade para enfrentar o trabalho com prazer.
Quanto mais consciência do corpo, mais fácil a mulher organiza seus movimentos, encontra uma posição confortável e facilita o processo.
A posição clássica de parir (deitada com as pernas abertas) só é boa para a realização dos procedimentos obstétricos, deixa o trabalho de parto mais longo, mais dolorido, dificulta a rotação do bebê e tem mais uso de analgesia.
Quando a mulher está assistida por uma equipe que respeita, aceita, partilha e integra corpo e mente, emoção e sensação, surge durante o trabalho de parto a expressão pura e verdadeira dos seus desconfortos, medos, a dor, as alegrias, o prazer com acolhimento a individualidade de cada mulher, sendo ela o centro de todo o processo.
O acompanhamento do trabalho de parto não faz pela mulher algo que seu corpo é capaz de fazer sozinho. O acompanhamento do trabalho de parto orienta, sugere, respeita, observa e direciona o corpo mudar de posição, a movimentar-se e facilita o processo do parto, direciona o uso adequado do corpo a cada fase do trabalho de parto, acelera as contrações, facilita a evolução e reduz a duração do processo.
Dra Daniella Leiros - fisioterapeuta, acupunturista e doula (A Sua Hora - serviços de apoio materno infantil)