Relato de Parto - Parto Domiciliar - Franca - SP - Nascimento Melissa por Clara
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Relato de parto normal domiciliar da Clara sobre o Nascimento da Melissa
"Alguns dias depois do meu aniversario o Xande começou a falar insistentemente que eu estava gravida. Há alguns meses que eu vinha falando em tentarmos o bb3, mas ele não tava muito animado com a possibilidade. Levamos alguns sustos, fiz alguns testes de gravidez, mas todos deram negativo. Eu precisava menstruar dia 22/05 e como minha menstruação sempre foi bem reguladinha, quando dava o dia de menstruar, eu ja acordava com esse presentinho, nunca acontecia no meio da noite, ou a tarde, era sempre de manhã. Dia 22/05 era o chá de bebê da minha prima e eu tinha aula da pós graduação. Acordei e nem sinal de menstruar, mas como eu tava com um histórico de as vezes atrasar, fiquei tranquila. Fui na aula, depois passei numa farmacia pra comprar a fralda de presente pro chá de bebê, vi que os testes de gravidez ficavam bem em frente as fraldas e pensei "Porque não? Tem um aqui de 5 reais, se der negativo, não perdi muito dinheiro." Peguei o que precisava e fui pra casa. Quando cheguei, fui direto pro banheiro, fiz xixi no palito e deixei ele num cantinho. Sai, fui beber agua e quando voltei: 2 risquinhos. Mandei mensagem pra uma amiga, não sabia se tava feliz ou triste, empolgada ou desesperada, a resposta dela: "Esse teste é da Needs, né? Ja fiz uma vez e deu falso positivo, se eu fosse você, faria outro pra confirmar." Sai correndo pra farmácia novamente, comprei um teste de marca conhecida, voltei, xixi no palito novamente e, novamente 2 risquinhos. Eu tava mesmo esperando o bb3. Desde que me entendo por gente, sempre falei que queria três filhos e que o meu sonho era que pelo menos um desses três fosse uma menina, porém, não sei por qual motivo, eu tinha a sensação de que seriam 3 meninos. Quem me conhece sabe bem como reagi quando descobri que meu segundo filho era um menino, não foi nada legal sentir aquilo, e eu sabia que as chances de sentir aquilo novamente eram grandes. Pra quem não sabe, sou católica e dia 22/05 é dia de Santa Rita de Cassia, a Santa das causas impossiveis. Em meio a choro, tremedeira e medo, coloquei meu joelho no chão e pedi "Santa Rita, da uma força ai! Abençoa minha gestação e, se for da Tua vontade, me manda a minha menina. Se não for, tudo bem, só acalma meu coração. Eu prometo batizar esse bebe no dia 22/05/22. Faz esse esforcinho ai, por favor!".
Comprei um body, escrevi uma cartinha e deixei tudo preparado pra contar pro Xande quando ele chegasse do trabalho. Xande chegou e chamei ele pro quarto, entreguei o pacotinho com as coisas, ele abriu e falou "Eu sabiaaaaaaaa!! Te falei que você tava grávida!!".
Quando completei 8 semanas já amanheci na porta do laboratório pra colher o sangue pra sexagem fetal e uma semana depois, numa chamada de vídeo enquanto o Xande trabalhava, sem nenhuma cerimônia, fumacinha rosa ou azul, balão estourando ou bolo colorido, descobrimos que quem estava chegado era a Melissa.
Primeiros exames de pré natal feitos e recebi um resultado de glicemia bastante alterada, ja me bateu o desespero porque eu sabia o que aquilo significava: diabetes gestacional! E todo mundo sabe que pra um parto domiciliar, precisamos de exames lindos e uma gestação de risco habitual. Iniciei controle de glicemia, controle de alimentação e a glicemia foi se mantendo normal durante toda a gravidez. Um problema a menos. Final da gestação chegando, nenhum sinal de pródromos, contrações de treinamento, NADA. Dia 08 de janeiro perdi um pouquinho de tampão e só. Vida seguiu normalmente. Eu queria parir dia 22 de janeiro, porque seria uma data bonita ahahaha 22/01/22. Acordei dia 22 sentindo zero sintomas de trabalho de parto. Era dia do casamento de um amigo e resolvemos ir. Lá, lembrei de uma coincidência que aconteceu nas duas gestações anteriores: 1 semana antes dos meus filhos nascerem, eu sempre sai pra fazer alguma coisa. No primeiro, fui num show do JQuest com 38 semanas. Com 39 semanas o Yuri nasceu. Na segunda, com 39 semanas fui com amigos num barzinho, com 40 semanas Diego chegou. Eu tava com 39 semanas dia 22/01, "tinha" que nascer no pròximo fim de semana rsss. Eu estava tranquila, as meninas da equipe me perguntavam se eu queria tentar iniciar algum método de indução natural, mas eu não me sentia confortável, queria que fosse naturalmente como das outras vezes. No dia seguinte fomos num churrasco com meus cunhados, eu tava me esforçando pra coincidência da saída uma semana antes do parto se repetir hahaha. Na terça feira, dia 25, Xande foi jogar futebol e levou o Diego. Fiquei sozinha em casa e resolvi colocar umas agulhas nos pontos de acupuntura que estimulam o TP, mas sem grandes expectativas. Não aconteceu nada. Dia 28 resolvi escrever um plano de parto com algumas observações: a música que eu queria ouvir, onde estariam alguns itens, quem estaria junto com a gente além da equipe... Dia 29 resolvi que queria tentar novamente a acupuntura, dessa vez pedi ajuda pro Xande pra colocar as agulhas e aplicar moxa. A noite recebemos em casa os padrinhos do Diego. Dormi sem nenhum sinal de nada novamente.
Acordei dia 30 e antes de me levantar da cama senti uma dorzinha na barriga diferente. Olhei no relógio e era 8:50h. Fui pro banheiro julgando ser uma cólica intestinal. Fiz xixi, me limpei e tinha tampão com um pouquinho de sangue, esperei mais um pouquinho e nova dorzinha, olhei no relógio: 9h. Resolvi sentar sozinha pra tomar cafe da manhã, coisa que eu nunca faço, mas dessa vez pensei "se for TP, pelo menos eu to de barriga cheia e isso vai me dar uma força". Percebi que enquanto eu comia, a cada 10 minutos eu tinha uma contração. De zero a dez, minha dor era 2. Tava muito tranquilo, mas como meu histórico de partos não é muito confiável, resolvi acordar o Xande e avisar a equipe. Combinamos que eu ja iria pra casa da minha mãe, onde aconteceria o parto pra não correr risco de correria, e quando chegasse lá, a Ananda iria pra me avaliar. Como as dores estavam muito fraquinhas, resolvi que levaria minhas coisas pra tentar fazer minhas unhas. Cheguei na minha mãe por volta de 11:30h e comecei a sessão de manicure. Ananda chegou logo em seguida e o comentário dela foi "Não é possivel que você esteja em trabalho de parto e tá conseguindo fazer unha! Isso não deve ser TP não". Fomos pro quarto, primeiro ela auscultou, coraçãozinho da Melissa ok e antes de fazer o toque me perguntou qual era meu chute: 3cm. Ela tocou e antes de verbalizar a dilatação, levantou a mão livre e com os dedos, me mostrou o que ela tava sentindo la dentro. "Clara, tá isso aqui. 4 pra 5 já. Vou ligar pras meninas". Iniciou-se a correria! Avisamos a Kênia, minha doula, avisamos a Karol, a fotografa e quase fomos em Uberaba pra buscar Patricia, porque ela havia saído e não atendia o telefone ahahaha mas deu tudo certo. Almoçamos enquanto as partes da equipe iam chegando. Primeiro a Kenia, depois a Karol e por ultimo a Pati, que estava mais longe. Cada uma que chegava sentava e se servia.
No meu segundo parto, me planejei pra comer pão de queijo logo no pos parto, eu mesma fiz tudo, enrolei e congelei os pães de queijo, mas Diego resolveu que nasceria rápido demais, sem esperar a equipe chegar (elas eram de São Carlos, mais ou menos 2 horas daqui), e como eu tava completamente sem assistência e a equipe ainda demoraria um pouco a chegar, resolvemos chamar o SAMU e ir pro hospital, pois o Xande e minha mãe diziam que eu estava sangrando demais. Como eu estava no hospital e fiquei La por 3 dias, so comi o pão de queijo muito tempo depois, e isso ficou martelando na minha cabeça. Foi a minha decepção não poder comer pão de queijo quentinho logo depois de parir hahaha
No parto da Melissa pedi pra minha mãe fazer os pães de queijo e ela deixou tudo no jeito pra fazer um café da tarde pra gente depois. Fez um pãozinho caseiro enquanto eu e as meninas conversávamos besteira em qualquer canto da casa. Minhas contrações continuavam fracas, 3 de 10 no maximo. Intervalos longos, a cada 5/7 minutos.
Eu sabia que naquele ritmo ainda poderia demorar bastante. Quando todo mundo da equipe ja estava presente e eu tinha certeza que teria um parto assistido, começamos a movimentação pra ajudar as contrações a pegarem força e diminuirem os intervalos. Fui pro chuveiro meio a contra gosto, porque no parto do Diego eu detestei ficar na água. Dessa vez não foi diferente. Achei horrivel, doia bem mais, mas era de contração que a gente precisava, então fiquei la uns 40 minutos. Quando sai, os pães e pães de queijo estava assados e a mesa do café estava preparada. Fomos todos juntos comer. Depois do banho, as contrações doiam um pouco mais, mas nada absurdo, eu so precisava me levantar, encostar em algum lugar e "segurar" a barriga. Não queria toques, nem massagens. Eu so ficava em silencio, segurava a barriga, respirava e deixava a dor ir embora. Assim foi o trabalho de parto inteiro. Os intervalos das contrações ainda eram grandes, bem maiores do que eu gostaria que fossem. Ja era mais ou menos umas 17h, fomos eu, Kenia, Diego e Karol dar umas voltas na praça em frente a casa da minha mãe. Alias, Diego tava o tempo todo la com a gente. O Yuri não quis participar dessa vez, Estava passando ferias na casa do meu pai e pediu pra que a gente so avisasse na hora que nascesse. Adolescente, né? kkkk
Depois da caminhada na praça, o Xande estava um pouco ansioso e queria saber a dilatação, Ananda tocou novamente e estava com 8cm, mas bebê ainda alta. Nesse momento foi a unica vez que senti medo. Eu sabia que a bebê poderia ser grande devido a diabetes gestacional, e recentemente acompanhamos mais partos do que gostariamos onde o bebê parou de descer aos 8 cm e precisou de cesárea. Eu não queria uma cesárea de jeito nenhum, então precisava colocar esse bebê pra baixo. Mexe o quadril, eleva a perna, caminha, rebola na bola. Lembro que depois desse segundo toque, foi a primeira vez que chorei durante uma contração. Contrações espaçadas ainda, e novamente contrariada, fui pro chuveiro. Dessa vez fomos só eu e o Xande. Luzes apagadas, agua quentinha, o cheirinho dos oleos essenciais que eu mesma escolhi saindo do difusor. A dor ficou muito mais intensa, comecei a verbalizar muito nas contrações, ficar sentada na banqueta era ruim, ficar em pé era ruim, mas eu tava gostando daquilo, sinal de que estava evoluindo. Falei muito palavrão, mas era aquilo que eu queria sentir. Tava acontecendo. A Melissa tava descendo e eu podia sentir a dor mudando de lugar. Depois que sai do banho não me lembro mais de abrir os olhos, o trabalho de parto tinha finalmente me abraçado e tava me fazendo sentir o que eu queria. Tentei me deitar, não foi bom. levantei e procurei uma parede livre, eu me encostava durante as contrações e segurava a barriga. Eu só procurava o Xande quando a dor vinha. A casa tava completamente em silencio, com exceção da voz do Diego brincando la na cozinha com a minha mãe e da musica, ninguem falava nada. A Kenia, que pra quem não sabe, também é minha cunhada, madrinha do Diego e uma pessoa muito iluminada, colocou a mão no meu ombro e perguntou se poderia fazer uma oração, só fiz que sim com a cabeça, eu nem vi ou ouvi o que ela fez ou falou, mas tenho a foto disso e sempre que vejo, me emociono. Obrigado por isso, Kenia!! A dor tava mudando de lugar, ficando mais baixa, e do nada eu fui pro quarto ja tirando o short e falei "Ela vai nascer".
Sentei na beirada da cama, exatamente igual como sentei no parto do Diego, e naturalmente comecei a fazer força. Eu não conseguia mais controlar, sentia muita vontade de empurrar a cada contração. Xande se sentou na minha frente, entre as minhas pernas, a Patricia de um lado, Ananda de outro, e a Kenia atras de mim. Eu me toquei e falei "só tem uma bolsona aqui ainda, quando estourar isso, você vai tomar um banho, Xande". Dito e feito, na proxima contração a bolsa rompeu.
A musica que eu queria estava tocando repetidamente. Eu gritava bastante durante os puxos. Coloquei a mão mais uma vez pra sentir onde tava a cabeça dela e ja dava pra sentir direitinho aquele tanto de cabelo, perguntei "Isso é a cabecinha dela???" e uns segundos depois a porta do quarto abriu, era o Diego. E logo em seguida minha mãe: "Não consegui segurar. Você perguntou se era a cabeça dela e ele falou que queria ver tambem". Falei que ele podia ficar. Ele permaneceu ali comigo, quietinho, observando. Eu me lembro de dizer pra ele que tava doendo muito, mas que era normal, pra ele não se assustar com meus gritos. Em momento nenhum ele falou nada. Não faço a menor ideia de quanto tempo durou meu expulsivo, mas pra mim, parecia uma eternidade. Parecia que aquele era meu primeiro parto e que eu não sabia NADA sobre o que tava acontecendo. Eu pedia pelo amor de Deus pra ela sair daquele lugar, falava que ela não podia ficar ali mais porque eu não aguentava, dizia que se eu tinha qualquer sombra de duvida que aquele seria meu ultimo parto, naquele momento a duvida havia virado certeza absoluta de que seria o ultimo, perguntava desesperadamente pra Pati e pra Ananda se na proxima contração ela ia nascer e sei que elas falavam pra mim a mesma coisa que eu falo pras gestantes quando acompanho um parto "ta tudo bem, vocÊ ta indo bem, so depende de você e da Melissa agora!" hahahaa
Algumas contrações e momentos de desespero depois, a cabecinha saiu e logo em seguida o corpinho também. Ela demorou alguns segundos pra dar o primeiro chorinho, o que é absolutamente normal, eu tava com ela no colo, via os olhos abertos, ela tinha tossido e não era um bebê molinho, eu estava segura de que estava tudo bem, mas so depois que ela chorou que fez-se a festa, todos comemorando a chegada dessa pequena gordinha, e eu so sabia falar "Chora, filha, chora, a mamãe ta aqui".
Mais alguns segundos e eu ouvi de alguma das meninas: "Clara, deita na cama, a gente acha que você ta sangrando demais, ja vamos fazer a ocitocina!"
A partir dai, não sei muito bem a ordem das coisas. Lembro da ocitocina na perna, de falarem que minha frequência cardiaca tava muito alta, da Ananda pegando uma veia num braço e a Kenia, minha doula que tambem é enfermeira, ajudando a pegar outra veia no outro braço. A Melissa no colo do Xande do meu lado. Soro correndo, mais ocitocina no soro, mais medicações, massagem no utero pra contrair. Lembro de colocar a mao na minha barriga e falar "ele (o utero) ta aqui, mas não acho que ta contraidinho nao. To sentindo uma cachoeira descendo". Mas o tempo todo eu tava consciente, conversando, a Pati e Ananda falando comigo, pensando em soluções.
Meu utero contraia, mas não mantinha a contração por muito tempo, logo relaxava outra vez e o sangramento aumentava. As meninas começaram a ficar preocupadas e falaram a primeira vez sobre uma possivel transferência. Eu não queria ir novamente pro hospital num pós parto. Tentamos mais algumas possibilidades, ligamos pra minha médica pra pedir opiniões e decidimos realmente que a transferencia acontecer.
O período que ficamos internadas não merece ser contado, foi, e ainda é muito sofrido pra mim.
Nossa pequena gordinha chegou em nossas vidas no dia 30/01/22 (uma semana depois de eu ir em algum evento ahahaha), ás 21:39h, com 3800g e 49cm. Num parto domiciliar longo e assistido ahahahaha, exatamente como eu queria.
Obrigada minhas amigas e parceiras da Equipe Isis. Obrigada Kenia, por toda sua paciência e sensibilidade com a doula/eo/parturiente que não queria saber de toques e massagens ahahahaha. Obrigada, Karol pelas fotos mais incríveis, pelo vídeo maravilhoso e pelo olhar tão carinhoso com a minha família."
Equipe de Parto Domiciliar em Franca:
Ísis Gestação e Parto