
Relato de Parto - Parto Domiciliar Planejado - Nascimento Ravi por Luíza - Ribeirão Preto - SP
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A história desse parto começou há anos atrás quando tive a certeza e decidi que gostaria de ser mãe, depois de ouvir que eu não conseguiria e que seria melhor congelar meus óvulos aos 22 anos, sem nunca ter tentado engravidar. Sempre pensei em ser mãe um dia, mas ouvir esse tipo de coisa te coloca de frente com a escolha, e naquele período turbulento que a endometriose me trouxe, tudo se tornou mais concreto e eu soube que gostaria de vivenciar o maternar, mas também o gestar e o parir.
Assim como passei por vários médicos até que eu fosse efetivamente acolhida e tivesse um atendimento individualizado para minha endometriose, descobri que a jornada para ter um parto respeitoso no Brasil era desse nível para mais difícil rsrs e assim descobri a humanização. E foi acompanhando vários perfis que fui conhecendo e entendendo os primeiros limites que eu gostaria que o meu parto tivesse… daqueles mais básicos sabe? Sem pique, sem Kristeller, sem puxo dirigido… mas ainda mais, fui interiorizando e concretizando como eu gostaria que fosse: com respeito e crença na fisiologia da mulher e do binômio, com respeito ao tempo, com medicina baseada em evidências.
No meio disso tudo, a doulagem entrou na minha vida e fui arrematada por uma quantidade avassaladora de informações para que eu pudesse atender e acompanhar outras mulheres, mas que me alimentaram de informações para as decisões que eu iria tomar no meu plano de parto durante a gestação. A doulagem atravessou minha gestação e meu parto e foi uma delícia! Poder contar com tanta informação, e com as vivências das famílias que eu acompanhei foi transformador no meu processo de travessia e, por isso, sou muito muito grata.
Quando eu e Dan começamos a falar sobre engravidar para valer (porque falar sobre é quase desde de o dia 0 de namoro rsrs era algo muito importante para mim para eu estar com alguém que não estava alinhado com isso), o parto já começou a tomar forma. Não sei quando foi exatamente que virou a chave, mas tinha decidido que gostaria de ter um parto domiciliar: eu conhecia as evidências, tinha entrado em contato com vários relatos sobre o parir em casa, me sentia mais segura em casa do que em um hospital e de tanto compartilhar com o Dan, para ele também parecia a escolha óbvia.


O sonho estava instalado na minha mente e no meu coração e comecei a já planejar para tornar realidade, o que envolvia inclusive colocar números na ponta do lápis para separar o dinheiro para essa trajetória. A Luara doula me contou sobre a Acalento, equipe de PD de São Carlos que atende aqui em Ribeirão também, e conversei com a Annie por Whatsapp no final de 2022. Lembro que pude sentir o acolhimento dela numa simples troca de mensagem, tirando minhas dúvidas com carinho e já se animando por mim antes mesmo de eu estar grávida. Estava decidida a equipe. Só fomos engravidar em Abril de 2023 e quando rolou eu já sabia bem quem estaria nos assistindo:
Equipe de PD: Acalento - Annie e Nara
Obstetra: Thais Mantovani
Doula: Luara
Fotógrafa: Karoline Saadi
E durante a trajetória da gestação decidimos ainda mais algumas mulheres para integrar essa jornada:
Fisioterapeuta pélvica: Adriana Piccini
Acupunturista: Laura Camargo
Pediatra: Marina Penteado
26/01/24
Corta para reta final da gestação, já com 40s5d. Eu que achava que, como doula, ia ficar tranquila até completar 41 semanas, já estava ansiosa desde as 39 semanas. Sabendo que nosso parto domiciliar poderia acontecer até 41s6d, já estávamos com planos para começar alguns estímulos e convidar o Ravi a vir. Cada bebê tem um tempo, e, com os estímulos, eu queria garantir que o meu corpo estaria preparado para iniciar o trabalho de parto quando o Ravi estivesse pronto.
Na sexta dia 26 pela manhã fomos a que seria a nossa última consulta de pré-natal. Decidimos fazer um descolamento de membranas, porque se fosse necessário repetiríamos no início da semana seguinte (respeitando a distância de 72h), antes de partirmos para colocar o balão como último recurso de estímulo mecânico beirando as 41 semanas.
Fizemos o descolamento e não senti dor, só incômodo - Dra. Thais ficou um pouco incrédula hahaha mas acho que foi a junção de muita certeza do que eu estava fazendo, me sentir super respeitada durante o procedimento e uma pitada de: já passei por dores de endometriose que nem se comparam. O nenis estava em -3 de DeLee, e eu estava com 1cm de dilatação, colo 50% apagado, amolecido e posterior - e essas foram as únicas informações de toque que tivemos durante toda minha história de gestação e parto.
Estava fazendo acupuntura desde o início de janeiro e marquei uma sessão com a Laura na parte da tarde para somar forças, que depois da sessão me mandou para casa com uma moxa para fazer cedinho no dia seguinte. Durante o dia, eu e Dan nos juntamos também para fazer alguns exercícios do Spinning Babies por sugestão das nossas parteiras e ajudar no posicionamento - como ele estava em -3 (alto), poderia ser o caso que isso estivesse faltando para ele vir.
Passei o dia tranquila. Era o meu último dia de trabalho e estava deixando prontas as últimas coisas para minha licença, e estava com algumas contrações de treinamento mais incômodas e até bem frequentes e nada mais. À noite vimos um filme em casa e Amendoim estava mais dengoso e próximo que o normal, enchendo a barriga de lambidas… ele já estava sentindo e eu nem sabia - jurávamos que precisaríamos do descolamento da próxima semana.




27/01/24
6h19
Acordei no dia 27 sem sentir nadica de nada, a madrugada - que é quando geralmente as coisas acontecem, passou lisa. Mas quando fui limpar o primeiro xixi, tcharam: tampão com sangue! Eu sabia que isso não queria dizer nada de parto, mas me veio um alívio de ver algo acontecendo: o descolamento não tinha sido em vão e no mínimo deu uma mudadinha no colo. Segui a vida: moxa nos pontos de acupuntura que a Laura tinha passado, arrumadinha na casa, compras no Verdurão.
7h54
Pois saí pra comprar banana e pão e voltei com uma bolsa rompida rsrs. Entrando na garagem na volta senti como se fosse um balão fazendo ploc dentro de mim, uma sensação muito engraçada. Comecei a escorrer o líquido entre as pernas, encharcado a calcinha, o short e o banco do carro. Minha cabeça estava a mil, num misto de preocupação com o banco do carro e uma animação tremenda porque eu sabia que agora era para valer. E aqui, de novo, eu sabia que isso não queria dizer nada de parto, mas eu senti naquele momento que ia rolar e que a largada tinha sido dada: eu estava muito feliz!
Subi de volta pra casa, escancarando as portas e acordando o Dan. Ele achou que eu estava sacaneando ele quando acordei ele falando que tinha estourado. Demorou um pouco pra ele processar a informação, mas, quando caiu a ficha, fizemos uma dancinha de comemoração rsrs o que a gente tanto esperou estava começando!
Fiz o teste de agachar e tossir, bolsa rompida real. O líquido estava clarinho com sangue, um alívio. Coloquei a calcinha absorvente - um charme que me acompanhou o dia todo 🤪.
Ali já comecei a sentir algumas cólicas, mas que ainda deixavam dúvidas. Fomos tomar café com calma, descemos pra caminhar com o Amendoim - eu estava a gestante elétrica que queria andar e andar e andar - e ficamos ponderando se íamos ou não para um almoço com amigos que estava marcado.
10h15
Desmarcamos o almoço. A vontade era de ficar quietinha e eu vi que eu definitivamente estava tendo contrações, elas já não pareciam mais cólicas, mas ainda eram bemmm suportáveis - dava para conversar enquanto elas rolavam e até sorrir para estranhos no elevador, disfarçando. Cheguei a marcar algumas, mas o ritmo estava uma bagunça, então, desencanei e fui tirar um cochilo delícia - acordando de tempos em tempos.
12h27
Fomos buscar o almoço - tínhamos encomendado uma feijoada da Comamor Vegetal - e ainda bem que o nenis esperou esse almoçinho haha estava show!! Tentei o chuveiro depois do almoço, mas não durou muito tempo - sou interrompida pela vontade de ir ao banheiro. Coisa que já vinha rolando desde de manhã e rolou o dia todo kkkk eu sinceramente não tinha ideia que cabia tanta coisa dentro de mim para ser esvaziada 🤣. Decidimos ver um filme e, apesar de ter que dar uma levantada para rebolar durante as contrações, foi uma ótima distração.
16h13
Pós filme, sou tomada por uma leve agonia, parecia que as coisas não saiam mais do lugar e eu já estava tomada pela minha versão parturiente - apesar da minha versão doula ter seguido comigo durante o parto (foi parte do meu processo racionalizar algumas coisas e adotar uma postura observadora da teoria vs prática - ao mesmo tempo que eu perguntei várias coisas pra equipe que eu já sabia a resposta, mas que eu precisava desse aval externo para seguir tranquila). Nessa hora, eu já estava vocalizando para passar pelas contrações e tendo que ficar um pouco mais concentrada durante elas. Eu não estava medindo, mas seguiam bem espaçadas e aí mandei mensagem no grupo do parto "Oiee só checando q é normal uma latência longa assim 🤣 a Lu doula já foi embora" e todo mundo falou que sim - o que me tranquilizou, mas segui ainda com um leve desespero de não saber por quanto tempo mais iria ficar nesse chove não molha.
Deitamos de novo, mas dessa vez já não consegui engatar o cochilo - só ficamos chamegando com o Amendoim. O Dan aproveitou para reler sobre as fases do trabalho de parto e revisar o plano de parto domiciliar.
17h30
Perto das 18h descemos de novo para andar com o Amendoim e buscar um docinho que Lari e Gabs tinham deixado para gente na portaria. Aproveitei para marcar as contrações durante um tempo, e apesar de terem melhorado a duração, estavam hiper bagunças e sem ritmo ainda.
18h33
Combinamos que a Dra. Thais iria passar aqui em casa para nos avaliar - Annie e Nara são de São Carlos há 1 hora daqui e não "valeria a pena" virem sem estar rolando trabalho de parto ativo. Aqui já deixo minha gratidão imensa a Thais que não tinha absolutamente nenhuma obrigação de passar aqui, mas que o fez de coração - na sincera dedicação, carinho e apoio pela nossa busca por um parto natural e seguro em casa.
Combinar a vinda da Thais foi minha última troca de mensagens - e quem acompanha parto sabe o que isso significa. Nesse meio tempo comi um açaí que durou pouquíssimo tempo…
19h22
Vomitei o açaí inteiro e o Dan assumiu as mensagens. A partir desse momento o tempo passou a ter outra dimensão para mim: comecei a entrar no mundo paralelo que chamamos partolândia.
Em algum momento depois disso, a Dra. Thais chegou e minha vocalização estava bem forte. Ela comentou que não teria trazido a filhinha Serena junto se soubesse que eu já estava nesse nível de dor e eu comentei que nem eu sabia que estava nesse nível de dor rsrs, a chave tinha virado há pouco tempo. Ela aferiu minha pressão e escutou o coração do bebê e estava tudo ótimo.
Eu perguntei sobre fazer um toque - indicando claramente o quanto eu estava já fora do eixo, dado que escrevi no plano de parto explicitamente que não queria toque, a não ser que muito necessário, e que meu sonho seria um parto com 0 toque. Pedi mesmo assim, porque, tomada pela intensidade das contrações, estava buscando alguma referência de que estágio eu estava. Masss graças ao alinhamento prévio do plano de parto, tanto o Dan quando a Thais me tiraram essa ideia, explicando como isso não ajudaria - ou estaria muito cedo e me desanimaria, ou estaria bem progredido, mas, para acionar a equipe, o ritmo das contrações seria o melhor indicativo. Fora que estando com a bolsa rota, isso aumentaria a chance de infecção, então definitivamente não fazer o toque foi a melhor pedida.
Mais um vômito, e acho na posição deitada de ladinho agarrada no travesseiro a melhor posição entre contrações. Dra. Thais vai embora, falando que poderia voltar mais tarde se precisasse (spoiler: não precisou rsrs).
Entre a Thais ir embora e a Karol fotógrafa chegar, pareceram segundos pra mim. Estava tão imersa em mim mesma que passou voando. Revezando entre o chuveiro e o sofá deitadinha, durmo entre contrações - o melhor sono do mundo. Naqueles minutos entre as ondas, relaxava de uma maneira e dormia um sono tão gostoso que não queria sair dali de jeito nenhum - essa foi uma das sensações mais loucas do trabalho de parto.





20h40
Nesse espaço-tempo alternativo, tem um momento que fica marcado em mim: a lua nasce no horizonte e no meio da contração vejo ela do chuveiro pela fresta da janela do quarto do nenê que está aberta. Eu que estava tão revoltada com a lua cheia que tinha passado no dia 25/01 sem nem fazer cócegas, soube naquele momento que era essa a lua que meu filho iria nascer: estava de tirar o fôlego, deslumbrante e nascendo enorme - intenso como estava sendo o parto.
21h
Era por volta das 21h quando a Karol fotógrafa chegou: lembro do olhar e do sorriso dela para mim, apesar de não conseguir cumprimentá-la. No tempo cronológico passam-se uns 30 minutos até a Luara (doula) chegar, no tempo da partolândia, segundos. Não lembro nem de vê-la, mas sentia que ela estava ali e que tinha chegado. Me lembro de sentir o cuidado por todos que estavam ali - não sei nem quem foi, mas lembro do carinho leve nas costas que recebi, como já recebi várias vezes dos meus pais e avós na minha vida, e isso encontrou um lugar especial no meu coração.
Por mais que estar deitada entre contrações estivesse a oitava maravilha do mundo, não conseguia mais seguir deitada durante as contrações. A Lu tentou algumas coisas e lembro de não estar a parturiente mais gentil do mundo rsrs. Eventualmente voltei pro chuveiro, o que não durou muito também, e sai, provavelmente, pelo mesmo motivo que sai todas as outras vezes: ir ao banheiro. Sério - não imaginei que dentro de mim tinha tanto espaço de armazenamento kkkk.
22h10
Dessa vez vou para o quarto e deito novamente, agora na cama. Lembro do Dan saindo porque a Annie e Nara - as parteiras - tinham chegado e ele tinha que ajudar a subir com as coisas e lembro de ficar feliz porque a Lu e a Karol seguiram me guardando enquanto ele não voltava. A Karol chegou a ler as frases de afirmação que eu tinha escrito e colado na parede e foi gostoso ouvi-las. Externamente, no entanto, só consegui falar "tá, mas será que vai demorar muito?" kkkkk.
Percebi realmente que as meninas tinham chegado quando olhei profundamente para a Nara e disse que não ia conseguir. Acho que já tinha falado isso outras vezes - e o Dan confirma que sim kkkk - mas, dessa vez, eu tinha certeza das palavras que eu estava dizendo. Eu tinha certeza que eu não ia dar conta: o meu lado racional sabia que eu ia chegar nesse ponto em algum momento - assim como todas as mulheres chegam na fase de transição. Só que eu também sabia que a fase de transição acontece lá pros 9 cm de dilatação, e meu lado racional que estava observando o processo tinha certeza que eu não estava com 9 cm - não era possível ter evoluído tão rápido assim. Então, eu tinha certeza absoluta que eu não daria conta, porque na minha cabeça eu estava ainda cedo achando que não ia rolar rsrs, ledo engano!
Seguimos para uma ausculta que durou uma eternidade - e foi certíssima de ser feita - mas nossa 😮💨. Como fiquei na mesma posição durante as 3 contrações que se passaram, na minha percepção, demorou horrores kkkk (deu para sentir o que a falta de liberdade de posição no parto faz). A primeira contração foi tranquila, no meio da segunda eu já tava super incomodada e na terceira eu queria matar a Annie 🫣🫶.
22h50
Assim que terminou, fui para uma nova tentativa no chuveiro e voltei para a partolândia. Dessa vez o chuveiro rendeu e fiquei um bom tempo. No caminho para lá, lembro da Karol falando: "equipe completa, agora já pode nascer" - pouco depois essa frase fez efeito.









23h10
Era pouco mais de 23h quando eu comecei a ter puxos no chuveiro. Na minha percepção e na minha lembrança, parecia que eu tinha acabado de entrar no chuveiro, mas, pelo que me falaram, já tinham bem uns 30 minutos. Foi engraçado que eu notei que estava tendo puxos porque ouvi a minha vocalização mudar. E assim, como fiquei um pouco incrédula quando achei que eu não poderia estar na fase de transição tão rápido, fiquei incrédula com já estar tendo puxos… mas logo acreditei, porque além de ouvir minha vocalização, comecei efetivamente a sentir vontade de fazer força junto com o meu útero.
Não fui só eu que fiquei surpresa: a equipe toda também demorou uns 2 puxos para ver que era real. Lembro de ouvir um "é puxo sim" de alguém e do nada ver uma movimentação para deixar tudo pronto para chegada do Ravi. As velas foram acesas para os orixás, o banheiro ficou abarrotado, a água seguiu sendo oferecida a todo tempo e cheguei até a comer um melzinho para retomar as energias.
Comparando cronologicamente as fases do trabalho de parto, um expulsivo de 30 minutos deveria parecer rápido comparando com a latência de um dia todo e o trabalho de parto que antecedeu de umas 2h30… mas para mim foi a fase mais longa do trabalho de parto todo, tanto que quando nasceu eu jurava que já era bem uma 4h da manhã do dia seguinte. Não sei se foi a expectativa que eu criei de tanto as mulheres falarem que quando chega no expulsivo dá um alívio porque você consegue fazer algo com a dor… mas para mim as contrações continuaram tão intensas quanto. Ao mesmo tempo que eu conseguia canalizar a dor, eu me exauria a cada contração. Quando vinha o puxo, cada centímetro do meu corpo contraia junto e eu gritava de uma maneira totalmente visceral me apoiando no Dan. Lembro de pensar que eu ia deixar meu marido surdo kkkkkk, mas a cada berro que eu dava, ele me retornava com o olhar mais meigo que eu já recebi e com um sorriso que mostrava a admiração em me ver.
Eventualmente, comecei a sentir uma pressão enorme no ânus e, para divertimento de todos - principalmente para o Dan quando conta a história do parto, falei "ai meu c*" bem uma dezena de vezes e perguntei se isso tava certo kkkk (eu sabia que estava, mas eu precisava perguntar rsrs). Perguntei também por seguidas contrações se ia demorar muito mais, se não ia nascer, porque parecia uma eternidade.
Aos poucos vi as coisas mudando e o Dan e a Annie mais atentos lá embaixo. Tentaram um espelho, mas ele embaçava. Lembro da Lu abanando os dois sem parar, porque o banheiro estava um bafo só e com certeza só eu estava achando uma delícia aquela água pelando hahaha. Eu sentia ele chegando e vi que ele estava bem pertinho quando consegui tocar os cabelos e o topo da cabeça molinha dele lá embaixo.
Eventualmente, a Annie sugeriu que eu saísse um pouco de chuveiro para ver se mudando de ares e me movimentando, ele conseguiria se movimentar melhor no canal de parto. Amei a sugestão. Acho que no fundo também estava cansada de estar lá. Foi preciso só sair do banheiro e chegar ao corredor para as coisas mudarem. A Annie perguntou onde eu queria parir, no sofá ou na cama, e eu disse um sonoro *aqui* já no início de uma nova contração. No corredor foi bem rápido.
23h41
Primeiro senti a cabeça saindo e foi um alívio colossal. Mais tarde descobri que ele nasceu com uma mão no queixo e talvez por isso o expulsivo não tenha sido ainda mais rápido.
Senti ele rodando lá dentro e foi uma sensação muito incrível. Perguntei se ele estava rodando, me responderam que sim e narraram quando primeiro um ombro saiu, depois outro e, por fim, o resto do corpinho. Consegui vê-lo também durante o processo pelo espelho que posicionaram embaixo de mim. O Dan amparou ele quando saiu, mas não durante muitos segundos porque, por puro reflexo, fui levando ele aos meus braços (depois fiquei com dó do Dan que tinha me pedido para ficar com ele um tico no colo quando ele nascesse).
Foi a sensação mais maravilhosa que eu já senti: pegar o Ravi nos meus braços, todo quentinho e molinho, com os olhos de jabuticaba me vidrando. Eventualmente, sentei na banqueta e não lembro de praticamente nada que estava acontecendo ao meu redor. Tomei um susto, inclusive, quando vi as fotos e vi a Nara avaliando ele no meu colo - isso passou totalmente despercebido por mim. A única coisa que eu lembro é da gente: eu inebriada, o Ravi no meu colo, o Dan sorrindo e o Amendoim lambendo o pé do neném. Fiquei flutuando nesse momento durante um tempo, querendo que durasse para sempre.







23h47
Comecei a sentir bastante cólica de novo e queria muito que a placenta saísse para eu ter esse alívio. Fomos então para o quarto para a Nara avaliar como estava e, para minha alegria, ela já tava ali na trave para sair, só uma puxadinha e pronto. Avaliaram para ver se tinha laceração e tinha uma pequena que tentamos conter o sangramento com compressa fria, mas no final precisou de dois pontinhos para fechar. Aplicaram a Vitamina K no Ravi e me ajudaram a oferecer o peito para ele - achei que eu ia arrasar e não precisar de ajuda, mas, quando é nosso bebê, a gente fica meio desengonçada com ele tão molinho. As próximas horas foram de mamázinho, soninho dele agarrado no meu colo e admiração da nossa família que tinha acabado de se expandir. Teve também um mega mecônio que nos sujou todinhos: minha barriga ficou toda melecada e tinha coco até na unha do pé dele hahahah - eu não liguei por nenhum segundo.
A equipe nos deixou curtir o momento, deixando a casa arrumada nesse meio tempo e comendo a quiche que eu tinha preparado para este dia. Pudemos aproveitar a delícia de se parir em casa: tomei água de coco e comi quiche deitadinha na minha cama, Amendoim ficou o tempo todo do lado (ele até ajudou a limpar o sangue que tinha escorrido na minha perna kkkkk) e nós ligamos para nossas famílias dando um susto nelas em plena madrugada. Foi um susto ainda maior porque não tínhamos contado que seria um parto domiciliar. De vez em quando, alguém aparecia para nos checar conferindo nossos sinais, oferecendo algo a mais para comer e beber, ajudando na pega da amamentação.
Em algum momento, não sei quando, mas quando eu tinha recobrado um pouco da consciência do mundo externo, perguntei para o Dan se nenhum vizinho tinha mandando mensagem no grupo ou interfonado. Ele disse que não - de duas uma: ou todos estavam aproveitando o sábado a noite fora de casa, ou foram todos muito discretos - nunca saberemos… mas uma coisa eu tenho certeza: deu pra ouvir kkkkk
02h50
Tivemos o privilégio, que eu só vi acontecer em casa, de ter uma Golden Hour mega power blaster. O Ravi ficou no meu colo até umas 3h da manhã e só foi tirado para as medições e colocar as roupinhas porque eu pedi - já estava cansadinha de ficar na mesma posição. Só aí o Dan cortou o cordão, desprendendo oficialmente o Ravi para esse mundão. O cordão já estava todo branquelo e fininho, cumprindo seu papel junto com a placena até o final.
Era um bebezão, como eu já sabia desde que tava na minha barriga - por puro instinto, porque o último ultrassom que fizemos foi com 30 semanas. 3440g e 51cm de pura gostosura, 2 olhos pretinhos de jabuticabas espertos e atentos, bochechas já proeminentes (mas não se comparam a como estão agora hahah) e muitíssimo cabelo.
Pude admirar o Dan vestindo o Ravi pela primeira vez e pegando ele no colo de uma maneira tão delicada e amorosa que só conseguia pensar "que sorte a minha".
03h40
Tomei um banho e saiu um coágulo imenso de sangue no boxe, praticamente do tamanho da placenta - tomei um susto, mas senti um alívio absurdo. Era por isso que eu seguia com cólica mesmo depois da saída da placenta. Trocaram os lençóis para gente, nos deixando prontinhos para se aventurar nessa loucura que é a parentalidade. Aos poucos, todas foram embora. Annie e Nara foram as últimas, saindo umas 5h da manhã.
Fomos dormir, acordando de tempos em tempos para olhar ele - o famoso ver se está respirando e admirar a perfeição que tava ali do nosso ladinho. Acordamos até que cedo, extasiados pela experiência avassaladora que tínhamos vivido e querendo gritar aos quatro ventos que o Ravi tinha chegado.
Eu pari! Sem nenhuma intervenção, com 40 semanas e 6 dias de gestação - nem toque tive, como eu tinha planejado e sonhado, num parto super intenso que durou umas 3h. Trabalho de parto a jato, mas após uma latência de um dia inteiro super necessária e uma bolsa rota de quase 16 horas ❤️. Trabalho de parto com respeito e ainda mais: muito amor de todos que estiveram ali nos assistindo e acompanhando.













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